Ai... se eu fosse um raio de Sol esta tarde
e sentisses a doçura do meu beijo...
Se eu fosse um grão de areia
e me abrigasse na tua pele...
Se eu fosse uma quente brisa marinha
e brincasse com os teus cabelos...
Ai... se eu fosse uma bolinha de Berlim com creme,
para me poder espalhar pela tua boca toda
e torná-la de tal forma doce,
que só um guloso como eu a pudesse provar...
Ai... se eu tivesse juízo e apenas dissesse que gosto de ti...
Ai se eu fosse...
Ai se eu tivesse...
Ai como és doce...
Ai agarrem-me senão eu vou-me a ti!

Milkshake

Join us as a milkshake.
Where sour-sweet come together.
The sweet: açucar + leite.
The sour: will you kiss me, ever?

The strawberry taste from your lips.
The caramel flavour from your skin.
A sour drop from a tear,
as I regard you as a desirable sin.

But milkshakes don't last forever.
Cause they're tasty n'creamy too!
Another drink would gimme me courage,
to steal another kiss from you!

Curriculum Vitae

Peço desculpa,
mas sou uma criatura incivilizada.

Digo mais,
sou mesmo uma besta!
Nunca tive modos à mesa.
E se querem mesmo saber,
duvido que alguma vez isso aconteça.

Sou rude
e tenho mau perder.
Tenho mau feitio
e não o sei reconhecer.

Sou orgulhoso,
sou egoísta,
ligeiramente pretensioso
e altamente vigarista.

Sou infiel,
um traidor.
E o papel de vilão,
é o que me assenta melhor.

Sou um bruto
e tiro daí muito prazer.
Nunca senti a necessidade
de agradar a uma mulher.

Sou um inútil,
uma espécie de parasita.
Mas esforço-me por convencer,
que sou um homem sério,
um poeta e um artista.

aMORte

Dizia-lhe Ele:
- Era capaz de matar só para ficar contigo!
Ela abraçou-o de imediato, surpreendida perante tamanha jura de amor.

De facto, em vida, Ele nunca lhe faltaria à palavra.
Hoje, Ela vive feliz na segunda gaveta do seu congelador, embrulhadinha em papel pardo. Foi uma atençãozinha que combina com o seu tom de pele.

Deixem-me da Mão Porque Estou Doente!

Sinto-me doente!
Ardo com febre,
estou impertinente!
Tenho comichões e cheiro mal
E o fedor não sai com detergente …

Os meus amigos troçam de mim:

” O fedorento precisa de namorada!”
Que sabem eles disto? Insolentes…
Ainda lhes prego uma estalada!
Tragam-me uma botija de água quente,
duas aspirinas e um copo de água.

Ainda me sinto fragilizado,
mas 
já chega de baba e ranho!
Se tu te enroscares a meu lado,
por um afecto e um carinho,
um dia até pondero tomar banho!

Memento Mori

Expresso as minhas condolências
pela morte do visado.

Despeço-me do dito cujo
que jaz morto e enterrado.

Espero que Deus Nosso Senhor
o tenha em boa companhia.

Pois se não morresse o nosso Amor
morreria a minha poesia.

A Princesa Insensível

Sem qualquer hesitação,
espetei-lhe uma faca no coração.
Caiu redonda no chão. A faca,
porque ela manteve a compostura.


http://www.youtube.com/watch?v=m4rr2wm6r8A&feature=related

Amor, a Morte ou a Pouca Sorte

O amor bateu-lhe à porta
e não lhe deu tempo par'atender.
Arrombou-a de supetão,
procedeu à invasão
e mais ninguém o pôde deter...

O rapaz estupefacto,
sentiu-lhe tremer o corpo.
Arritmias no coração,
caiu já morto no chão,
mas com um sorriso parvo no rosto.

Coitadito, era tão bom rapaz!
Paciência, assim é a vida! Temos que ser fortes...
Pelo menos não sofreu com a derrota do Benfica nessa noite!

Paixão (in)Temporal e Aguaceiros

Tento fugir de ti
pelos intervalos da chuva.
Mas de facto não consegui
deixar de gostar de ti,
ainda que a chuva não nos una.
Se neste Abril te cravo um beijo
no meio da multidão

e se ouvires o clamor do povo
sem qualquer hesitação,

é porque o amor saiu à rua,
no dia da revolução.

Deu-te um cravo e deu-te beijo
e Depois do Adeus ele deu-te a mão.
Assumo o meu fracasso.
Tento disfarçar este embaraço.

Desculpem-me a redundância,
mas quero voltar a ser criança.

A escrita nem sempre flui,
nem sou feliz como antes fui.

Está caducada toda a esperança,
quero voltar a ser criança.

Um Pequeno Poema Bucólico

Eu tenho alergia às florinhas,
Tão viçosas e sadias!

Perdoai-me,
minha amiga,
minha amada,
desta infausta notícia
desta abominável estocada.

E não fiqueis tão expectante.
Não fiqueis tão constrangida.
Se alergia é constante,
não perco eu qualidade de vida?

Desenganai-vos,
desiludi-vos.
Ou então aguardai sentada.
Pois flores em vós,
formosas ficam,
Lírios, comigo,
só mesmo nada.

No dia em que eu morrer,
levo a urna bem cerrada.
Levo a chave junto ao peito,
onde ela fica bem guardada!

Aceitais que vos agracie de outra forma,
Ignorando prática tão sensaborona?
Retirai a vossa indumentária, senhora,
que vos devasso tão bela…atchiiim....

Já não vos disse que não aprecio flores?

O Castigo

Ai, que me castigas mulher!
Tu e esse teu decote!
Arranca-me essa saia maldita,
desaperta-me o teu saiote!

E se me deres uma estalada,
saberei que é por ser atrevido.
Mas o que me custa tentar
levar-te a fazer amor comigo?

O constrangimento não nos impede
e é tão indigesto dormir sozinho.
Mais vale a pena envolver-nos
na doce ternura de um carinho.

O Sul, o Sol e a Lua

Sigo Sul e o Sol
segue também o seu caminho.
Mas apenas o Sol escolhe
seguir a viagem sozinho.

Chego ao Sul e o Sol
desencontrou-se com a Lua.
Lá ao fundo, ela é farol
que m'alumeia à tua procura.

Só Mais Não Me Chega

Mais eu sou.
Mais eu quero.
(De)mais te dou.
Porque espero
mais de ti?
Porque espero
e não me chegas?
Desespero!
Enlouqueci?
Que exagero,
o dos poetas!

Em desejar o melhor,
A Mulher Mais Desejada.
E é nos poemas de amor
que se perfila em bom rigor,
a mulher inalcançada.

As Asas Cujo Fim Nunca Foi Voar

Caíste do céu Ícaro
e acho que caíste muito bem.
Quis a fortuna que por amor
caísses tu nos braços de alguém...


Monossílabo inquietante
Tão simples e constante
Que me assusta acompanhá-lo em vida.


Sozinho
Solitário
Somente

Por mais sílabas que acrescente
Por muito mais que queira e tente, nada muda...
O só continua a ser só
ainda que na companhia de muita gente...

Só me resta...
Só me resta ser só...
Só me resta o Só na minha vida...
Voltarei sozinho ao pó...
Terei um final igual à partida.

O Pecado da Carne

É verdade que a carne é boa.
É verdade que a carne é fraca.
É a verdade que a amaldiçoa.
Vende a sua alma em Lisboa
e vende o corpo a quem lá passa.

É já tarde e amanhece.
É já tarde e é de dia.
Regressa a casa e adormece
e no seu sono até se esquece
de quão má foi a companhia.

A almofada colada ao peito
de menina/mulher abandonada.
Abraça a almofada daquele jeito,
tal como se nunca o tivesse feito,
na necessidade de se sentir amada.

Por 20 euros obtém-se na rua
a carne mais tenra da nossa praça.

Criatura Sem Nome

Tenho um Ser em mim que me consome,
que me rasga e me arrasa as entranhas!
Sinto que o sangue aos poucos me some
e alimenta esta Criatura Sem Nome,
Ser Fiel que me mata e me acompanha.

O coração deixou de bater
e o seu lugar ficou ocupado.
Também a Criatura acabaria por morrer.
Recebeu um triste fim, este Ser,
no meu peito, em pedra, alojado.

Hoje sou errante sem coração.
Nunca mais me senti amado.
Lágrimas em mim? Jamais as verão.
Perdi o Amor e a Paixão
e ganhei estilo mecanizado.

A Barra de Sabão Azul

Então, cansado de ser rejeitado pela sua amada, fixou-a nos olhos e num tom sério e triste, proferiu:

"Estou farto. Estou farto dessa tua insensibilidade. Entrego-te o meu coração e tu quebra-lo como se de porcelana tratasse.
Para mim chega! Levo mais barras da tua parte do que de uma fábrica de sabão azul!"

Sem quaisquer demoras, Ela segurou-lhe a face e beijou-o de forma inesperada.
Foi-lhe despertado o ímpeto e o desejo de que há muito ansiava.

Ele...sorri até hoje com a mesma cara de tótó. Mas fez-se um homem e fez dela uma Mulher.

O Jogo da Sedução



Que pouca sorte a minha…
Tenho consciência de que não presto!
E de resto?
O que há de bom para fazer?
Ser altruísta
Não me arranja conquista
E é língua que um burro velho não quer aprender!

Que se dane a monogamia,
O que eu gosto é de Sedução!
Ninguém atura o atinadinho,
Que bonzinho!
Há-de ser parvo, padre ou sacristão!
Que se dispam as beatas
E que tragam o vinho!
Não vão destrunfar um herege
Com quatro damas na mão!

Para o formoso bast’ó engate!
Mas é tão pouco
E nem é belo!
Eu que sou feio,
Cá me safo.
E o que eu faço
É aliciar-las a tão doce enleio!

Mas podem ter a certeza!
Já não coloco cartas em cima da mesa.
Por meu descuido,
Ou por sua esperteza,
Leva-me os ouros todos.
Leva-me um Sete, três Valetes,
Os Duques e o resto da realeza!

Ao jogo das Copas ela ganhou
Apenas eu o perdi.
Perdi-me de paixão por ela!
E só por ela eu me rendi!
Já nada escondo!
Já não vos escondo nada!
Afinal, somos os dois da mesma laia.

O jogo que já não jogo
Ela joga.
Ou então, não tenho mais a certeza…
Se ela se rendeu a mim
É Verão.
Mas se foi apenas pela sedução
É Inverno,
E troveja!

Da noite para o dia
todo o mundo enlouqueceu.
Parece que a lógica foi abolida
e assumiu-se uma ordem invertida,
onde o desajustado sou eu...

Maria, a Aparição

Chegaste aqui toda lançada,
prepotente e mal-encarada.
Ar nobre de francesa,
roupa chique e perfumada.
Melhores lojas de Lisboa?
Tenda rasca, Feira da Ladra?
Antecipas qualquer moda
Pop-chunga ou Alta Roda.
Os saltos-altos que te anunciam
Altivam ainda mais essa pancada.

Mas há qualquer coisa que em ti me fascina
além das tuas roupas e adereços.
À luz do foco que te ilumina,
ar de puta sacra, mulher divina
senhora de si e dos seus preços.

O teu cabelo negro escorrido.
Os teus olhos de preto pintados.
De cigarro na boca vieste ter comigo.
Esse isqueiro não quer ser mais teu amigo
Vieste pedir isqueiro emprestado.

O tempo pára como por magia.
Fixas-me esse teu olhar de ninfeta.
Mulher fatal, musa maior da poesia.
"Não sou uma puta, chamo-me Maria"
"Boa noite, sou o Vicente e sou poeta"

( http://www.youtube.com/watch?v=DE6P_BCvJqY&feature=related )
( http://www.youtube.com/watch?v=iE6k0CxE8mE )

COGITO GALATEAM

(Imagino Galatéia)

Quem quer que tu sejas:
loura falsa, pretensa morena,
não deves mesmo valer a pena.
Ando desgastado toda a semana,
noites em claro, voltas na cama.
Olheiras fundas, indisposição,
muito por culpa da imaginação.
Com quem t'hás-de parecer?
Maria-rapaz, matura mulher?
A actriz/modelo da televisão,
qu'aumenta o volume ao coração.
Vai-se-me o sono, vem-me a vontade,
já te vislumbro...não é verdade.
As horas caem e o sol levanta,
já amanhece e eu com esperança.
O tempo é curto, a tensão é muita,
o ritmo aumenta e evita a multa.
Vejo-te nua, cabelo comprido.
Vá, continua, vem ter comigo!
Os contornos são, ai tão esguios,
revelam-te na tez locais sombrios.
O teu olhar, o teu semblante,
estás tão perto, tão provocante!
A meia luz, tanto calor...
Que empata fodas! O despertador...

Tiras-me o sono! Não prestas para nada!
Se ao menos te mostrasses mais interessada!
Não sei se existes, mas acredita,
Deus não criaria mulher tão bonita!

Um Sono Inquieto!

O tempo...
O tempo marca-me
e marca-me a vida também.
Que frustrante ser comum
e ter a potencialidade de cem.
Movo-me como qualquer um,
na multidão de génios adormecidos.
Temos medo, mas temos fome,
e o alimento é o risco de acordar.
E ver que o tempo passou
e nunca fomos fracos o suficiente para amar,
e chorar e viver e falhar.
Digam-me aonde é que é a saída deste sonho!
Este autocarro adormece-me as pernas
e eu quero sentir e correr sem me cansar,
para sempre, para nunca mais ter que parar!

Momentos etéreos em contextos estéreis

As palavras que te dirijo
não são expressão dos meus sentimentos,
nem sequer do que penso ou idealizo.
São mecanizações do Costume, do Hábito, repetições.
Repito o que outrora sentira
e hoje sei que está vazia,
toda expressão dos meus sentimentos.
São a forma e o som
desprovidos de conteúdos e melodia.
São só palavras, palavras apenas
e parecem-se mal quando não são proferidas.

Intrigado com o caso,
mandei analisar a questão.
Onde está o significado do significante que pronuncio?
O caixote está vazio,
não me contento apenas com o cartão.

Encontrei o significado
no dia em que te perdi.
Tinhas tranças longas, eras tão linda,
tal como no dia em que te conheci.

Enrolo e lambo o papel deste cigarro
expiro o fumo com uma técnica maquinal.
Por vezes, terei esquecido como é bom fumar,
fumar por prazer!
Talvez tenha também esquecido o significado de te Amar,
mas sem nunca ter deixado de o fazer.
E um beijo roubado?
Não tem que ser devolvido?
Quer-me parecer que este
não é um assunto ainda encerrado!
Mas evitamos de chamar já os agentes da autoridade,
é que em troca de um beijo molhado
fica o nosso caso resolvido.
(Ou então, ainda mais complicado).
Porque me tentas?
Porque não me tentas deixar?
Porque é que o fazes e ainda te queixas?
Porque não deixas de me tentar?

Sabendo que te amo e não o posso,
instalaste-te em definitivo na minha cabeça.
Posso tentar mentir e dizer que já não gosto,
mas colocaste os teus lábios no meu rosto,
e inevitavelmente,
deixo que tudo o resto nos aconteça...

Não há outra inclinação
senão voltar a onde pertenço.
Se antes houve e agora não
uma outra espécie de solução
seria ela uma inadequação
ao Presente e ao Contexto.
De dia a dor...
Claridade indesejada.
A verdade adormecida,
agora exposta e comentada.

De dia a dor...
Sinto amarga a minha boca.
Perco a fome e tenho frio.
Esvai-se-m'a alma que é tão pouca.

Perdi o amor...
Ou talvez se dê ele por esquecido.
A mútua forma de se amar
é a única forma que faz sentido.

De dia a dor...
E o caso está encerrado.
A infelicidade não mora em ti,
vou ser infeliz para outro lado.
Façamos o seguinte:
Desfaçamos a cama
e disfarcemo-nos do que não somos.
Construamos um enredo,
sejamos tudo aquilo que nunca fomos.

A congeminar esta trama
coloquemos vendas de bandido.
Sem saber se nos acentam,
interessa-me apenas a emoção
nos momentos em que estou contigo.

Construamos um mundo de ilusão
elaborado num planeta de fantasia.
Tu és Alice e eu um pirata bem mauzão,
fantasiemos, porque não,
até a noite se tornar dia.
O calor, o amor e as amoras.
O suor que nos cola as camisolas.
Em redor, o fragor de uma ribeira.
Por brincadeira,
colho-t'um beijo!
Junto aos ramos d'uma amoreira.

Ruborizam-se as faces
nem sei bem de que maneira!
Será do calor que se sente?
Ou pelo facto de um adolescente
ser inexperiente na matéria?

Por reflexo mergulhámos
os dois juntos na água fria.
Sem jeito, mal disfarçámos
a atracção que se sentia!

O teu corpo que se revela
na transparência da camisola
És tão bela, mulher formada!
Fizemos amor dentro de água.
A primeira vez! Numa ribeira!
Lá tas tu a bater couro
às meninas da vizinhança.
Dialéctica que vale ouro
para miúdas que vêm de França.

Quinta à noite ouvi disparos,
sete tiros de caçadeira.
Eram os pais das meninas
com quem te meteste em brincadeiras

Andaste aflito e em apuros,
uma semana exilado,
voltaste à vila tão mansinho,
tão selecto e modificado.

Foi sol de pouca dura!
Cedo voltaste à cepa torta.
Totalista na lotaria
primeiro prémio e sem aposta.

Engravidaste uma miúda,
a mais nova do merceeiro!
Ai pinga amor, que Deus evite,
tornar-te santo no cemitério...
Dar-te-ia o meu coração
no momento em que te vi.
Mas deixá-lo-ias cair ao chão,
no escuro piso de alcatrão,
tal é o peso do meu amor por ti.

É para evitar essa maçada
que te entrego antes este beijo.
É mais leve e não dói nada!
E prometo que quando fores beijada
será com todo o meu desejo.

Pelo sim, pelo não,
vem ai um camião,
vamos é fugir da estrada,
antes que a gente morra atropelada
e fica o beijo para outro dia.
Tenho a fantasia
mas é tudo quanto tenho.
De concreto, apenas ela é minha
mas trocava a fantasia
pelo objecto do meu desejo.

Vejo o amor platónico
como um artigo fora de prazo!
O que não dava eu para ter
esse teu corpo de mulher
esculpido ao meu lado?

Peço perdão se firo
as demais susceptibilidades.
A verdade é que eu prefiro
e diz-me lá se não seria giro,
passar da Fantasia à Realidade.

A ignorância nunca nos trouxe um único pingo de felicidade.
Será que é a morte que chama por mim?
Será que caí em sorte e me enterram na lama?
Por que nada ouço?
Por que não te ouço?
Sinto-me fraco,
sinto-me outro,
noutra condição que não a humana.
Corta-me o cabelo, meu amor,
durante o sono,
terá o sabor de um sonho.
Não te arrependas! Sou eu que to peço.
Corta em cada trança esta força indesejada,
porque me pesam nos ombros
as responsabilidades que nunca quis.
Não fui toldado para guerrear e combater.
Prefiro ser um homem e conhecer
o amor de uma só mulher.
Odiar-te-ão. Odiar-me-iam se soubessem.
Achariam que desisti.
Amaldiçoarão o teu nome.
Mas é apenas um nome.
Peço-te esse sacrifício.
Porque foste tu que me encontraste
e foste tu que me seduziste.
Foste tu que me quiseste.
E és tu por quem eu não desisto.

Não se desvirtuará a História por se obliterar um herói,
perante tamanha prova de amor!
Ai se o vento levanta a saia,
desta menina que se passeia.
Tem umas pernas bem projectadas
e não se parece incomodada,
por ser o centro da brincadeira.

Os homens de meia idade
que reúnem forças na esplanada,
não escondem a felicidade,
de ver uma saia a esvoaçar,
desta forma inopinada.

É uma alegria nesta rua
observar rapariga tão fresquinha.
Na impossibilidade de a ver nua,
os miúdos lá da rua,
ficam pasmados a calcular
os ângulos curvos da cuequinha.

Alva, justa e bem colada
ao pecado da menina.
Sinto um odor o dia inteiro...

Por que não me levam a sério?
Por que não me levam daqui?
Porque me enchem o depósito?
Está atestado e está cheio
do tédio que se sente aqui!


Deixem-me escrever poesia.
Trabalhar é uma perda de tempo!
Escolho dormir durante o dia,
porque é à noite que melhor se cria
poesia com fundamento.

Lamento, Mas Não Peço Perdão

"...Aromas de luz e de lama/Dormi com eles na cama/Tive a mesma condição..."
Pedro Homem de Melo



Estou triste
Triste por ti

Estou triste
E enjoado

Estou triste
E não me passa

Sinto-me triste
E desanimado

Tantas vezes te desiludi…
Quantas outras te pus de lado?
Desta feita deixei em ti
travo de nojo impregnado.

Vou-lhe chamar infortúnio.
E penso agora com consciência:
Se era bom e agora é mau…
Não leva a causa à consequência?

Não me arrependo. Eu assumo.
Guardo a memória. Eu sei que guardo.
Para ser Eu, abdiquei de ti
Tenho-te presente. Mas és passado.

Já tiveste tantos nomes.
Tantos outros eu assumi.
Sofri de males e dissabores.
Que te importa? Se para ti eu já morri...

Eu já morri…

Eu já morri!

Eu já morri?

Então porque me sinto tão cansado?

Eu já morri…

Eu já morri!

Eu já morri?

Quando um pedido de desculpas se torna inadequado!
Viu um semblante negro e difuso,
retrato sem uso
para os seus olhos
quedos e imaculados.

Um reflexo pesado,
tenso e macabro.
Sílaba átona
e desajustada
a um mecanismo ordenado.

Um vidro delator
anuncia à mulher
um vulto inesperado,
sem culpa nem pecado.
Um pretérito imperfeito,
um presente constrangedor.

“Surjo eu, o declarado,
O seu antigo enamorado…”
De repente e sem jeito
sinto uma fuga no peito!
A pouco e pouco perco fôlego
e o calor conservado.


Diante de ti diminuído.
Os seus olhos no chão prostrados.
De que padece o teu amigo?
Parece tão incomodado comigo!
Não é ele o afortunado?


És o mal do qual padece
e ao que parece,
também ele já o provou!
Veneno tão bem empregue!
Está contaminado e corroído!
Olha, vai tu e o teu amigo
Para o Diabo que vos carregue!
Se tu e eu fossemos dois versos,
formaríamos uma rima emparelhada.

Teríamos em comum um endereço,
partilharíamos os dois uma morada.

Ouço lá fora soprar os ventos,
tão intensos e adversos!

Até que tu adormeces,
abraçada a mim, tão sossegada.

Observo-te no teu sono,
até que a noite se dê por finda.

Acaricio-te os teus cabelos
molhados pela chuva miudinha...

Até que surja o sol,
até surgir a madrugada.

Apenas numa rima,
numa rima emparelhada...
Hoje foi o dia em que um mito caiu por terra!
Hoje é o dia que tudo em ti me enerva!
Hoje vai ser o dia em que te vou deixar…
Peço-te licença, despeço-me e retiro-me da mesa…

Ias-me anunciar que vou ser pai!
E de súbito, viras objecto descartável…
O teu mundo a ruir, desmorona-se e cai
por terra. A vida nunca te foi fácil!

Humedeces a boca com o café,
mas engoles a seco o que sucedeu…
Rapidamente, tu te recompões e sorris:
“Parolo! De qualquer forma o filho nem era teu!”
Se não estás, bebo
Porque quando bebo, custa-me menos
Aperceber-me que percebo
que no tom do meu Desejo
desafina a tua distância.

Seduzes-me, Oprimes-me, Suprimes-me

Eras como sémen redentor que irrompia da minha imaginação...
Mas a decisão estava feita
e sem mais detenção,
eu te renunciei!
Despi a beleza de um sim,
vesti suave veludo de um não!

Mas se o arrependimento é constante,
que se dane!!!
Subscreverei com sangue,
todo aquele que assinalar:
" eu desisto de ser cativo desta mulher".

O teu pecado é a tua virtude
e na elegância de um olhar
salvas da morte um moribundo,
saciando-lh'a sede
com a água do mar.

Amar-te é renunciar à vida,
é dar origem a um tal de Hefesto.
Porque de resto....
Para quê sulcar um coração
que não pode recuperar do ferimento?

Tenho o poder para te dizer:
"Não te quero!"
Mas eu sou sincero,
palavras como as minhas
apenas disfarçam emoções...

Qualquer dia eu cometo uma loucura.
Rasgo-te a roupa
e se te puxo pela cintura,
virilmente faço-te sentir
todo o vigor dos meus calções!


Já não te quero por consciência, desejo-te com toda a imprudência...


Parte-me sempre o coração,
Ver-te assim tão aflita
Lágrimas e pranto não combinam
Com mulher tão bonita.


Adornemos-lhe a testa, meu amor,
Que lhe fica tão a preceito.
Enganar é um verbo em desuso,
Atribuamos-lhe um novo conceito.
Os dias sem beijinhos são uma seca!
São tão maus de passar!
É uma coisa que me inquieta...
Os dias que se alongam e que teimam em perdurar!
Dias com beijinhos indesejados são piores
e não deixam de acontecer.
Eu que sou alérgico a flores,
se o torno também com beijos, um dia acabo por morrer!
Ai... há beijinhos tão bons...
Ai... há raparigas tão giras...
Mas são um escândalo esses sons,
quando eu te beijo e tu suspiras!

Eu espero…espero…e espero…
A pontualidade nunca foi o teu forte.

Eu acredito que existas…
Que nervos…Não sou eu agnóstico?

Eu imagino-te…
Fogo… vezes sem conta!

Concebo-te…fantasio-te!
Mas os pobres nunca mereceram o Natal!

Eu procuro-te… ininterruptamente!
Acendam a luz, por favor, está tão escuro…

(…Click…)

Cegaste-me…E não te conheço a voz…

Eu choro…resigno-me…

Se já não servem para te ver
que outra serventia lhes hei-de dar?

Ai mulher, Aborreces-me!

E aborreces-me tanto, que quando digo que me aborreces,
Os meus ‘R’ e os meus ‘S’
multiplicam-se com tantas ganas,
Que mais se assemelham a um onomatopaico
ronco de motorizada;
De arrasto, aos solavancos, pela nobre estrada secundária.

Ai mulher, como me enervas tu mais às 50 de cilindrada!

A ignição de tal sentimento é a tua manifestação:
‘Já chegastes?! Não me gostas! Não t’acheguas! Tu ressonas!‘,
(Jesus Cristo, Nosso Senhor, que paciência!
Por favor, Ponham fim a mais esta provação!)

Rodas a chave e como por magia, pego logo à primeira, dá-se logo a explosão!
Presenteias-me, és tão querida, com a tua douta sabedoria!
Cativante que tu és, dor de dentes que me arrelia.
És delicada, és uma rosa, sinto orgulho pela tua prosa,
Tão oportuna, como eu lamento! És óbito em dia de casamento.

Consideramos as flores bonitas, provavelmente, porque não falam!
És tão bela, se ao menos Deus te tivesse feito muda.
A culpa é minha, eu sei!
Sou um rapaz de ambições largas.
Talvez, por isso, o tanto que me dei.
Se aspiro por estrelas efémeras e vias lácteas,
Não se corromperá o universo com todas as suas leis?

Já não te alcanço!
Já não te encanto!
Longe vão os tempos
em que as estrelas nos olhavam dos céus…
Eu e ela…
Os dois
Sós.
E o mundo para quê?
Não faz sentido pensar no mundo.
Não merece a atenção.
Ela quer-me e eu sou feliz!
Ela está aqui e hoje estaremos juntos por muito tempo.
Hoje toda a agenda é redundante,
Hoje todos os compromissos passaram a ser este e apenas este, nada mais.
Mais, seria menos dela, menos de mim, menos de nós.

Eu sinto-me lisonjeado porque ela me quer.
E ela quer tudo aquilo que é certo, que para mim é certo, mesmo quando ainda não tenho consciência do que é certo.

E a ordem natural do universo tomou o seu rumo aparte de nós.
Nós criamos outras leis da física, da metafísica, nós estamos a ver o rosto de Deus e choramos de felicidade.
Porque,
ainda que seja ilusão,
este momento é único e é lindo!
E é nosso.

Tocamo-nos,
Sufixas alguns ‘E’ ao meu nome
e confessas-me com alguma seriedade:
‘ gosto de ti…assim do tamanho do mundo…’
E sorris…


Soltas uma curta gargalhada de menina
e abraças-me com força.
Meio sem jeito, procuro os teus lábios.

Transporto-me para o futuro.
O Estio dará
lugar, em breve, a um sombrio mês do Outono.
E tu imitarás as aves.
Chegará a tua altura de migrar.
Sóis mais quentes te aquecerão a pele.
Não serei cobertor de Inverno.
Mas nada disso me interessa…
Hoje és minha!
E eu serei Sol de Verão,


Como vou sentir saudades tuas!

Encostas a cabeça ao meu peito…
Narcotizados pela cadência das cigarras lá fora,
adormecemos os dois.
Os teus seios
têm cheiros
e aromas verdadeiros
de um falso dia de Verão.

É libido
que t'encharca o vestido,
e ao fazeres amor comigo
seca-t'a boca e acelera-t'o coração.

Dás-me um abraço,
escorre-nos suor pel'abaixo...
Talvez ignores, mas eu acho...
Que isto não é apenas atracção!
Roubaram-me a namorada!
Patifes! Deverei apresentar queixa?
Mas se m’apresento numa esquadra,
Careço da factura carimbada
com rubrica a caneta preta.

É mais fácil fazer macumba,
bruxaria ou candomblé.
Ah pulha, se eu t’apanho, um dia faço-t’em puré…
É um dilema muito grande, posso ir parar à cadeia!
Seu biltre mal amado hás-de andar roxo com diarreia!

Também já fui artigo em segunda mão,
Quem sabe, um dia, artigo em mão alheia?!
Sinto-me desorientado.
Sinto que perdi o Norte em algum lado.

Metes-me raiva.
Tenho-te ódio.
Já enjoei do tabaco!
E dos psicotrópicos
De Câncer e Capricórnio.

E nisto,
O que havíamos traçado a xisto,
Acerca de um modo de vida a dois
Acabou.
Mas porque é que ninguém me desprogramou
Este software afectado?
Talvez um antivírus me traga em sorte
Uma noite de sono, descansado!

A Menina da Consulta

Já tratei do meu cartãozinho de isenção,
Para a consulta dos males de amor,
(a do coração).
É azulinho e pequenino,
E com ele não pago taxa de solidão.

Mas porque teimam em remeter cartas
com absurdas dívidas neste sector?

‘ò menina, desculpe lá,

É que não consigo suportar,
Tais encargos com o meu ordenado.
Asseguro-lhe! Não a estou a enganar!
Só não quero ser enjaulado! ‘

‘ Desculpe lá meu senhor,
Mas tem que tirar a senha noutro balcão.
Esta consulta é para os pequenos ditadores
e para políticos em recuperação.

A especialidade dos crónicos apaixonados
Já não aqui neste edifício!
Agora é ali ao lado.
Mas as filas são um suplício
E o Multibanco está avariado ‘

Haja paciência Jesus,
para suportar este fardo
Ando nisto o dia inteirinho
E com o coração maltratado.

Vou visitar a enfermeira Ana Maria
Que é uma jovem dedicada.
Tira-me a tensão em qualquer dia,
E usa farda decotada...

Enlouqueceste a Lua
no dia em que te viu nua!
Iluminou-se e viu beleza.
Despiu-se louca, cheia de inveja!

Eu olho para o céu
e sei que não sou eu,
que te despe toda nua.
Sorte a sua. É a Lua, é a Lua.